segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Fala de Emília

" A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso.
Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e
mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda;
pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos;
por fim pisca pela última vez e morre.

-E depois que morre?- Perguntou o Visconde.
-Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?"

(Montero Lobato)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A criança que fui chora na estrada




"A criança que fui chora na estrada
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada
Quero buscar quem fui onde ficou."
(Fernando Pessoa)



terça-feira, 3 de julho de 2012

Insetos Interiores

"Notas de um observador:

Existem milhões de insetos almáticos.
Alguns rastejam, outros poucos correm. 
A maioria prefere não se mexer. 
Grandes e pequenos. 
Redondos e triangulares, 
de qualquer forma são todos quadrados. 
Ovários, oriundos de variadas raízes radicais. 
Ramificações da célula rainha. 
Desprovidos de asas, 
não voam nem nadam. 
Possuem vida, mas não sabem. 
Duvidam do corpo, 
queimam seus filmes e suas floras. 
Para eles, tudo é capaz de ser impossível. 
Alimentam-se de nós, nossa paz e ciência. 
Regurgitam assuntos e sintomas. 
Avoam e bebericam sobre as fezes. 
Descansam sobre a carniça, 
repousam-se no lodo, 
lactobacilos vomitados sonhando espermatozóides que não são.
Assim são os insetos interiores. 

A futilidade encarrega se de “mais tralos'. 
São inóspitos, nocivos, poluentes. 
Abusam da própria miséria intelectual, 
das mazelas vizinhas, do câncer e da raiva alheia. 
O veneno se refugia no espelho do armário. 
Antes do sono, o beijo de boa noite. 
Antes da insônia, a benção.

Arriscam a partilha do tecido que nunca se dissipa.
A família.
São soníferos, chagas sem curas.
Não reproduzem, são inférteis, infiéis, “infértebrados”.
Arrancam as cabeças de suas fêmeas,
Cortam os troncos,
Urinam nos rios e nas somas dos desagravos, greves e desapegos.
Esquecem-se de si.
Pontuam-se


A cria que se crie, a dona que se dane.
Os insetos interiores proliferam-se assim:
Na morte e na merda.

Seus sintomas?
Um calor gélido e ansiado na boca do estômago. 
Uma sensação de: o que é mesmo que se passa? 
Um certo estado de humilhação conformada o que parece bem vindo e quisto.
É mais fácil aturar a tristeza generalizada
Que romper com as correntes de preguiça e mal dizer.
Silenciam-se no holocausto da subserviência
O organismo não se anima mais.
E assim, animais ou menos assim,
Descompromissados com o próprio rumo.
Desprovidos de caráter e coragem,
Desatentos ao próprio tesouro...caem.
Desacordam todos os dias, 
não mensuram suas perdas e imposturas.
Não almejam, não alma, já não mais amor. 
Assim são os insetos interiores."



(Fernando Anitelli)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Metade

"Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.



Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.



Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo.



Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
e que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
mas a outra metade é um vulcão.



Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso
que eu me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei.



Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço.



Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade 
pra fazê-la florescer
porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.


E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também. "
(Oswaldo Montenegro)

segunda-feira, 18 de junho de 2012

A Harmonia entre a Terra e o Céu


"Acordes que me acordam,ouço a melodia
todo dia,ela toca em harmonia com minh'alma.
 Oh essa música é divina,me recorda um passado
que ainda não passou literalmente, minha mente
flutua dócilmente.
 A harmonia desse som me eleva o coração,
é quando me desprendo da dor e da ilusão.
 O ritmo se expressa em meus sentidos,
os ouvidos atentos as notas que nem notam 
que estou ali, continuam a cantar sem parar,
me fazendo dançar.
 Em sintonia com o som até parece um dom,
somos só um, sua música e minha dança.
 A escala que escalei até o último refrão,
mesmo sem cifras pude decifrar alguns 
dos teus mistérios.
 No intervalo de tempo parei para pensar,
mas só o que pensava era nas estrelas
dançantes ao meu redor.
 Minh'alma dança no ritmo do teu canto,
tu és maestro dessa ópera sinfônica"
(Lucas Oliveira)

Haikai 134

"Blocos de gelo
em forma de monstros
Mensagem do Planeta"

(Águeda Mendes da Silva)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Poeminha do contra

"Todos estes que aí estão
Atravançando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!"
(Mário Quintana)